Imagens de sete desenhos de nus pertencentes ao acervo da Coleção de Arte da Cidade de São Paulo, encontradas no site da coleção, tiveram seus códigos binários extraídos e expostos em displays luminosos LED. Ao lado de cada display, uma etiqueta de identificação com a ficha técnica do desenho correspondente.
A obra Acervo (2007) foi concebida para o Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, instituição que conserva e divulga a Coleção de Arte da Cidade de São Paulo. Durante o processo de criação deste trabalho, tentei pesquisar os arquivos da Coleção, mas a burocracia me impediu. Ao final da exposição, recebi o prêmio aquisitivo e hoje o trabalho é parte da mesma Coleção de Arte da Cidade de São Paulo.
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Acessando o mundo através de zeros e uns - por Luisa Duarte
No outro trabalho que faz parte da exposição, o artista realiza um diálogo com o acervo da Pinacoteca Municipal. Em uma parede vemos sete painéis luminosos que exibem em movimento os números 0 e 1. Ao lado de cada um há uma ficha técnica de uma obra de arte. Os displays mostram o código binário referente à representação digital da obra referida na ficha, ou seja, a própria imagem em linguagem digital. Cama escolheu sete desenhos de nus reproduzidos digitalmente no site do CCSP. Estão ali, à nossa frente, trabalhos de artistas reconhecidos como Tarsila do Amaral, Milton Da Costa e Anita Malfatti.
Ao invés de nos dar a ver as obras, temos os códigos que as constituem digitalmente. Aqui o artista prossegue com a sua pesquisa sobre o universo das imagens digitais, bem como questiona a relação do espectador com os acervos públicos, cuja visibilidade no Brasil é quase nula. Trata-se ainda de uma obra conceitual do início do século XXI.
Nos anos 1960, J. Kosuth realizou o trabalho que se tornou ícone desta tendência, One and three chairs (1965), feito de uma cadeira, da fotografia da cadeira e da definição que o dicionário oferece do vocábulo. A arte se tornava menos visualidade e mais discurso. Hoje, para realizar uma operação desta natureza os códigos são outros.
Felipe Cama está atento para estas novas regras do jogo, pensando criticamente o lugar da arte diante deste presente, que se representa, assepticamente, não mais por palavras, mas por zeros e uns.
Trecho do texto publicado originalmente no folder da III Mostra do Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo, em novembro de 2007
Abaixo, as páginas do site da Coleção de Arte da Cidade de São Paulo (antiga Pinacoteca Municipal), das quais foram apropriadas as imagens dos desenhos representados por seus códigos binários na obra Acervo (2007).
Acervo, Felipe Cama - Vitrine da Coleção de Arte da Cidade
Desde a fundação do Centro Cultural São Paulo, em 1982, a Coleção de Arte da Cidade passou a ser administrada por esta instituição. A partir de então, o programa expositivo do CCSP tornou-se uma importante referência para a aquisição de obras deste acervo, que hoje conta com cerca de 2800 trabalhos, entre desenhos, pinturas, gravuras, vídeos, fotografias, objetos e instalações.
Acervo, de Felipe Cama, é um exemplo dessas aquisições. A obra faz um comentário sobre a invisibilidade dos acervos de arte, cujos trabalhos passam grande parte do tempo resguardados em reservas técnicas. Cada display corresponde à decodificação da imagem digital de obras pertencentes à Coleção de Arte da Cidade. Dentre elas, trabalhos de Milton Dacosta, Quirino da Silva, Tarsila do Amaral e Anita Malfatti.
Texto de parede para a exposição “Acervo - Felipe Cama, Vitrine da Coleção de Arte da Cidade”, Centro Cultural São Paulo, 2009.